Infectologista Jamal Suleiman é o brasileiro-palestino homenageado do ano pela Assembleia Legislativa de SP

Suleiman será o segundo membro da comunidade palestina homenageado pelo Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras (CONSECRE)

31/08/2023

O descendente de palestinos Jamal Suleiman, infectologista do Instituto Emílio Ribas, de São Paulo, será um dos homenageados em ato solene na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, no próximo dia 4, às 19 horas. Ele está entre as personalidades das comunidades homenageadas pelo Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras (CONSECRE).

A “Homenagem às Personalidades das Comunidades” existe desde que o CONSCRE foi criado, em 2001, mas a comunidade palestina só passou a integrá-lo no ano passado e, com isso, também ganhou o direito das demais comunidades que o integram, dentre eles o de indicar anualmente um de seus membros para que receba a homenagem. O presidente da FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, foi o primeiro a receber a homenagem, ano passado.

A homenagem é um reconhecimento às personalidades indicadas pelas suas ações na preservação da memória e da identidade cultural de seus povos e países originários, bem como por suas contribuições para a construção socioeconômica de São Paulo e do Brasil.

Rita de Cássia Halti, representante palestina no CONSCRE, cuja ação foi fundamental para inserção da comunidade palestina no conselho, diz que o órgão é uma “importante conquista no sentido de fortalecer e divulgar a nossa causa”.

Quem é Jamal Suleiman?

O homenageado brasileiro-palestino deste ano, o médico infectologista Jamal Suleiman, é descendente de família palestina de Silwad, cidade localizada na região de Ramallah, por parte de pai, e Jericó, no Vale do Jodão, por parte de mãe, ambas na Cisjordânia ocupada. Seu pai viveu curto período em Haifa, importante cidade portuária do norte da Palestina, também conhecida como Galileia, ou baixa Galileia, uma das primeiras a ser afetada pela Nakba, designação árabe à catástrofe que se abateu sobre a sociedade palestina a partir de dezembro de 1947, com maior dramaticidade em 1948, quando o movimento sionista, promovido por estrangeiros euro-judeus, expulsou massivamente a população palestina (mais de 750 mil palestinos, mais de 60% da população palestina de então, se tornaram refugiados, e que hoje, com seus descendentes, são 6,2 milhões, segundo a ONU). Isso o levou a sair da cidade. Em 1956 chega ao Brasil.

Hoje com 64 anos, Jamal Suleiman graduou-se em medicina em 1983, no Estado de São Paulo, e fez sua residência no Instituo Emílio Ribas, de onde não se desligou mais e no qual atualmente é titular de cargo efetivo. Docente e pesquisador, Jamal Suleiman se destacou nacionalmente no período da pandemia do Covid-19, quando foi o infectologista mais requisitado pelos veículos de comunicação por sua atuação no combate à doença.

Mas sua especialização em doenças infecciosas vem desde sua residência, ainda nos anos 1980. Ainda durante a especialização, foi convocado para atuar na assistência e identificação da Febre Purpúrica Brasileira, doença então desconhecida que incidia no oeste do estado de São Paulo.

De lá para cá, até os anos 2010, atuou na pesquisa de drogas para o tratamento do HIV e infecções oportunistas, tendo recebido duas auditorias realizadas pelo FDA (Food and Drug Administration – agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos).

Em paralelo, dirigiu e organizou o atendimento no Pronto Socorro/Ambulatório e Hospital Dia, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, num momento extremamente crítico da assistência aos enfermos com AIDS na cidade de São Paulo. O modelo assistencial Hospital Dia é pioneiro na abordagem humanizada aos pacientes graves, tendo facilitado seus convívios domiciliares e, assim, evitando fechá-los no ambiente hospitalar.

Nos anos 1990, atuou na assistência domiciliar à população trans na cidade de São Paulo, o que resultou no primeiro convenio de um órgão público com uma ONG (Casa da Brenda Lee) para internação domiciliar de pacientes com AIDS. Desta atuação resultou sua responsabilização pelo treinamento de médicos dos estados brasileiros, em parceria com o Ministério da Saúde, para atendimento a esta população, naquele momento uma grave questão de saúde pública.

Outro reconhecimento veio, ainda nos anos 1990, no convite para integrar a assessoria técnica ao Programa Estadual de AIDS, quando o Estado de São Paulo instituiu um grupo de trabalho voltado para pesquisa de vacina para HIV em parceria com a UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS).

Atualmente, Jamal Suleiman atua no treinamento de alunos de graduação em medicina (tendo sido o Coordenador do Setor de Internato Médico) e de residentes de medicina e de saúde pública.
Pela ação determinada na prevenção e combate, que lhe valeram reconhecimento e notoriedade no Brasil e no exterior, sua presença nos veículos de comunicação nacionais e internacionais se tornou rotina, especialmente quando o assunto é relacionado à saúde pública, com destaque à pandemia de Covid-19.

 

Pimenta e culinária

Além da paixão pela saúde pública, Jamal Suleiman cultiva outras duas: por pimentas e pela história da alimentação das populações. A pimenta, fruto originário do continente americano, deixou de ser mero passatempo e virou produto gourmet, com fábrica, marca e tudo que um produto de excelência exige. A “Pimenta do Jamal” vem desde 2010 e já tem dezenas de produtos, que vão da pimenta propriamente, em fruto ou em molhos diversos (um deles, a chata, palestina), às geleias de pimenta e muitos temperos, grande parte com presença da cultura árabe e oriental de modo geral.

E como pimenta não existe sem alimentação e culinária, Jamal Suleiman dedica parte de seu tempo a elas como “representação de uma identidade cultural”. Segundo ele, tudo isso “visa difundir esse conhecimento e a valorização de técnica e conservação desse valioso bem, assim como apresentando suas múltiplas formas de consumo no mundo a partir da difusão feita pelos navegadores no século XVI”.

O gosto pela culinária fez de Jamal Suleiman também um convidado para falar da comida típica palestina, o que lhe valeu aparições em importantes programas de gastronomia, nos quais promoveu pratos palestinos, dentre eles a popular Makluba.

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