O infectologista Jamal Suleiman é o homenageado palestino na ALESP pela memória e identidade cultural de povos imigrantes

Suleiman é o segundo membro da comunidade palestina homenageado no CONSECRE; veja fotos

05/09/2023

Na última segunda-feira, 04, em ato solene, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo homenageou, entre personalidades e entidades, 10 indicações de comunidades de imigrantes. Elas receberam a “Homenagem às Personalidades das Comunidades”, criada pelo Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras (CONSECRE), da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

O homenageado da comunidade palestina foi o brasileiro-palestino Jamal Suleiman, infectologista do Instituto Emílio Ribas, de São Paulo.

Suleiman tem uma trajetória destacada na infectologia brasileira desde os anos 1980. Veja perfil completo aqui.

A homenagem é um reconhecimento às personalidades indicadas pelas suas ações na preservação da memória e da identidade cultural de seus povos e países originários, bem como por suas contribuições para a construção socioeconômica de São Paulo e do Brasil.

O homenageado, além de recordar da chegada ao Brasil de família, em 1956, primeiro com o pai, depois a mãe, e a saga que enfrentaram no Mato Grosso do Sul para se adaptarem à língua, clima e costumes, fez questão de ressaltar as razões que os levaram, assim como a centenas de milhares de outros palestinos, à emigração da Palestina: a Nakba de 1948. “Recebo essa homenagem em nome de todos os palestinos que vieram após a diáspora brasileiro-palestina que para cá veio viver a dor do exílio após 1948, quando da nossa NAKBA, que significa a nossa catástrofe”.

Suleiman encerrou sua manifestação citando trecho do poema “Nós ensinamos vida, senhor”, da poetisa palestina Rafeef Ziadah, que diz, ao final: “Nós, palestinos, acordamos todas as manhãs para ensinar a vida ao resto do mundo, senhor!

Veja abaixo fotos e vídeos do evento, e leia a íntegra do discurso de Jamal Suleiman.



Boa noite senhoras e senhores:
Em nome da comunidade palestina recebo com muita honra essa homenagem que a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo de forma generosa concede a personalidades que tem atuação destacada na preservação da memória e da identidade cultural de seus povos e países originários, bem como por suas contribuições para a construção socioeconômica de São Paulo e do Brasil.

Num país como o nosso, marcado tão intensamente por tantas influências multiétnicas, homenagens como esta tem um valor muito grande.

Sou filho de imigrantes palestinos. Meu pai chegou ao Brasil em 1956 e rapidamente, assim como outras comunidades, se esforçou para aprender o novo idioma tanto em sua forma falada como escrita. Para tanto, uma de suas primeiras atitudes foi contratar uma professora. Para mim, isso é um exemplo claro da importância dada à educação como instrumento de inserção na comunidade. 18 meses depois, trabalhando, primeiro como mascate, depois como pequeno comerciante, trouxe a minha mãe, para dar início a um novo recomeço.

Ele e minha mãe fizeram de suas vidas pontes para que pudéssemos atravessar. Trabalharam de forma incansável para propiciar educação aos seus sete filhos. Conseguiram fazer com que todos cursassem uma universidade.

Esse era o exemplo que tive em casa, mas que, com certeza, e vimos isso aqui, se replicava em muitas famílias de imigrantes.
Minha escolha pela profissão de médico tem muito dessa história. A escolha da especialidade em doenças infecciosas também é fruto de uma formação sólida de caráter, moldado no humanismo desse povo desde os tempos ancestrais.

Recebo essa homenagem como um reconhecimento a todos os palestinos que vieram ao Brasil há pelo menos 130 anos.

Recebo essa homenagem em nome de todos os palestinos que vieram após a diáspora brasileiro-palestina que para cá veio viver a dor do exílio após 1948, quando da nossa NAKBA, que significa a nossa catástrofe.
Recebo essa homenagem em nome de todos os palestinos que ajudaram a construir um Brasil melhor, primeiro como mascates, levando mercadorias para os rincões aos quais poucos queriam atender.

Este reconhecimento é para todos os que aqui lutaram e lutam para manter nas gerações vindouras vivas a chama da luta nacional, da cultura, das tradições, da culinária, da espiritualidade. Para todos os que organizaram as primeiras instituições palestino-brasileiras, dentre elas a Sociedade Beneficente Muçulmana Palestina, que depois se tornou apenas Sociedade Beneficente Muçulmana, porque vieram a ela outros imigrantes árabes muçulmanos não-palestinos. Esta iniciativa pioneira de palestinos é a hoje Mesquita Brasil (em São Paulo), a primeira mesquita do Brasil e do continente.

É para todos os mais de 100 mil brasileiro-palestinos que trabalham de sol a sol para ver o Brasil, a pátria que os acolheu, ser uma grande nação.

Este reconhecimento é também para todos os que nos foram e são solidários. Para as autoridades e o povo brasileiro, aos quais nos curvamos humildemente em reconhecimento e gratidão.

É também a esta Assembleia Legislativa, através do Conselho Estadual Parlamentar de Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras, na pessoa do deputado Delegado Olim, e de seu presidente, Gabriel Sayegh, que soube dignificar [os imigrantes], distinguindo-os com um conselho e com uma solenidade desta magnitude.

E para finalizar quero citar uma poetisa palestina contemporânea, Rafeef Ziadah que compôs esse poema – e vou citar apenas um trecho dele – quando instada por um jornalista que lhe perguntou se não ficariam “bem” se não ensinassem tanto ódio para as crianças naquela área do planeta:


E estes não são dois lados iguais: ocupante e ocupado.
E cem mortos, duzentos mortos e mil mortos.
E entre isso, crime de guerra e massacre, pronunciei palavras e sorri “não exótico”; sorria, “não terrorista”.
E conto, conto cem mortos, duzentos mortos, mil mortos.
Tem alguém aí?
Alguém vai ouvir?
Eu gostaria de poder velar seus corpos.
Eu gostaria de poder correr descalço em todos os campos de refugiados e segurar todas as crianças, cobrir seus ouvidos para que não tivessem que ouvir o som dos bombardeios pelo resto da vida, como eu faço.
Hoje, meu corpo foi um massacre transmitido pela TV.
E deixe-me dizer, não há nada que suas resoluções da ONU tenham feito sobre isso.
E nenhuma frase de efeito, nenhuma frase de efeito que eu invente, não importa o quão bom meu inglês fique, nenhuma frase de efeito, nenhuma frase de efeito, nenhuma frase de efeito, nenhuma frase de efeito os trará de volta à vida.
Nenhuma frase de efeito resolverá isso.
Ensinamos a vida, senhor!
Ensinamos a vida, senhor!
Nós, palestinos, acordamos todas as manhãs para ensinar a vida ao resto do mundo, senhor!

Muito obrigado!

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