A elite alemã apoiou Hitler e agora apoia “israel”

A aristocracia alemã está acostumada a estar do lado errado da história. A maioria dos nobres apoiou Adolf Hitler nas décadas de 1930 e 1940.

20/07/2025

Ursula von der Leyen, uma aliada ferrenha de Israel. (Christophe Licoppe / União Europeia)

Por David Cronin*

Nos anos 2020, a aristocrata bávara Katharina von Schnurbein segue na mesma linha. Em vez de se ater ao seu trabalho oficial como coordenadora da União Europeia para o combate ao antissemitismo, ela está defendendo o holocausto que Israel está infligindo a Gaza.

Como revelou o site EUobserver, von Schnurbein descartou as inúmeras evidências de que Israel massacra rotineiramente palestinos como sendo apenas “rumores sobre judeus”.

Assim como seus amigos no governo israelense, ela difama qualquer pessoa que faça até pequenos gestos de solidariedade com os palestinos. Para von Schnurbein, até mesmo uma feira de bolos organizada por funcionários da UE em Bruxelas para arrecadar fundos para a campanha da Cruz Vermelha em Gaza seria um exemplo de “antissemitismo ambiente”.

Von Schnurbein pode não ser um nome conhecido do público, mas está longe de ser uma figura marginal em Bruxelas.

Apesar de seu contrato de trabalho não lhe dar qualquer mandato para lidar com questões de política externa, ela tem atuado ativamente para impedir a imposição de sanções contra Israel. Sem dúvida, ficou satisfeita quando os governos da UE não chegaram a um consenso sobre essa possibilidade, levantada nesta semana.

Ela parece contar com o apoio de sua compatriota Ursula von der Leyen — que também vem de uma família aristocrática. Quando iniciou seu segundo mandato como presidente da Comissão Europeia em dezembro do ano passado, von der Leyen decidiu que von Schnurbein passaria a trabalhar sob sua direção direta.

Em uma medida pouco noticiada, von der Leyen determinou que von Schnurbein deixaria de fazer parte do departamento de justiça da Comissão Europeia, onde atuava anteriormente. Em vez disso, ela passaria a integrar o secretariado da Comissão, supervisionado diretamente por von der Leyen.

Vale lembrar que von der Leyen é uma aliada ferrenha de Israel. Ela chegou a garantir ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que poderia “contar” com o apoio da UE após o início do genocídio em Gaza, em outubro de 2023. Ao “transferir” von Schnurbein de um departamento para outro, von der Leyen sinalizou, ainda que discretamente, seu comprometimento total com a instrumentalização do antissemitismo em favor de Israel.

Magnus Brunner, representante da Áustria na Comissão Europeia, também recebeu de von der Leyen a responsabilidade pelo combate ao antissemitismo.

Brunner está ainda nos estágios iniciais de seu mandato de cinco anos em Bruxelas. Ainda assim, já atingiu o ápice do absurdo.

Há algumas semanas, foram espalhados cartazes em Bruxelas com fotos de defensores de Israel. Os cartazes diziam a verdade: que as pessoas retratadas estavam fazendo lobby em favor do genocídio.

A simples exibição desses fatos nas ruas da cidade foi inaceitável para Brunner. Ele convidou os lobistas — muitos dos quais apareciam nos cartazes — para seu gabinete, para expressar “solidariedade” com eles.

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Em uma postagem nas redes sociais, Brunner alegou que os grupos pró-Israel — que ele descreveu de forma enganosa como “organizações judaicas europeias representativas” — foram vítimas de uma “campanha profundamente preocupante e antissemita”. Brunner, no entanto, não apresentou qualquer evidência de que as pessoas nos cartazes foram alvo por sua religião ou etnia, e não pelas posições políticas que assumiram.

Brunner representa bem a perversidade que domina em Bruxelas. Quando não está oferecendo solidariedade a defensores de genocídio, ele se dedica a pensar em como tornar a Europa ainda menos acolhedora para os refugiados.

Tornar a crueldade algo razoável

As tarefas que von der Leyen lhe atribuiu incluem o aumento e a aceleração das deportações. Para atingir esse objetivo, ele recebeu também a missão de fortalecer a Frontex, a agência de controle de fronteiras da UE.

Por meio de um pedido de acesso à informação, obtive recentemente documentos que lançam luz sobre as atividades da Frontex. Eles deixam claro que a agência considera as deportações — ou “retornos”, como prefere chamar — o “elemento central” de seu trabalho.

A Frontex se vê como uma espécie de agência de viagens, que reserva ou ajuda a organizar deportações para os governos da UE. Frequentemente, essas deportações ocorrem em voos comerciais.

Os documentos mostram que a Frontex reconhece que a proposta de “centros de retorno”, promovida por von der Leyen, é “controversa” — mas que a agência a vê com bons olhos.

A proposta é mais do que controversa. Se implementada, levará a graves violações de direitos humanos.

Ela envolve deportar pessoas para campos localizados em países dispostos a hospedá-los. Segundo um dos documentos em discussão entre os governos da UE, o processo impediria a revisão judicial das expulsões.

Os documentos que obtive mostram que a direção da Frontex tem conversado com Brunner sobre “novidades relacionadas a retornos”.

Essas “novidades” não estão especificadas ou foram censuradas pela agência. Com base nas atividades atuais da Frontex, temo imaginar do que se tratam.

Em janeiro deste ano, dois membros da equipe da Frontex participaram de uma deportação em um avião fretado pela polícia alemã. Segundo um relatório interno da Frontex, os deportados considerados não colaborativos foram imobilizados com algemas corporais.

Outro relatório interno, do fim de janeiro, mostra que a Frontex foi alertada de que uma pessoa deportada da Noruega corria risco de perseguição ao retornar ao seu país de origem. Mesmo assim, a deportação foi realizada.

Um “oficial de direitos fundamentais” da Frontex deu garantias sobre a “correção” das ações realizadas durante a deportação.

A Frontex também concluiu haver “impossibilidade” de “entrar no mérito” da deportação. Fazer isso, sugeriu a agência, ultrapassaria seu mandato.

Embora a Frontex tenha ocultado o nome do país para onde a pessoa foi enviada, descreve a deportação como “muito relevante” do ponto de vista “operacional”. Foi a primeira deportação para aquele país desde 2019.

A escolha de palavras é reveladora. Expulsar refugiados é uma prioridade alta para a União Europeia; tudo o mais tem importância secundária.

Magnus Brunner e Ursula von der Leyen são políticos de direita. Embora apresentem suas propostas como “firmes e justas”, não resta dúvida de que querem tornar a Europa mais cruel com os refugiados.

É lógico, portanto, que políticos que tratam uma política sádica de deportações como algo razoável também sejam complacentes com o genocídio.

* David Cronin é editor associado da The Electronic Intifada. Seus livros incluem A Sombra de Balfour: Um Século de Apoio Britânico ao Sionismo e a Israel e A Aliança da Europa com Israel: Apoiando a Ocupação. Artigo publicado em 16/07/2025 na EI.

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