Indústria de armas israelense se vangloria após os “testes em laboratório” de Gaza
Três empresas de armamentos aumentaram suas receitas combinadas em 16%. “Isso redefiniu a identidade global de 'israel'”, dizem fabricantes
Morteiro israelense em uso no genocídio de Gaza. (Foto: Anadolu)
Por Ryan Grim*
Em uma recente conferência de tecnologia militar em Tel Aviv, empresas israelenses de armamentos fizeram algumas de suas declarações mais explícitas até agora, conectando o valor de seus produtos aos testes em condições reais desse poder de fogo sobre palestinos em Gaza.
Uma gravação das falas da conferência foi obtida pelo Drop Site News e inclui comentários do presidente e CEO da Israel Aerospace Industries, bem como de executivos da Elbit Systems, da RAFAEL Advanced Defense Systems e de outras empresas. A conferência chamou-se DefenseTech Week e foi realizada no início de dezembro. O Drop Site compartilhou o áudio com veículos de imprensa independentes no Brasil, na Irlanda, na Austrália e em outros países; esses veículos produzirão suas próprias investigações.
A indústria de armas israelense já havia sido alvo de críticas por sua disposição em se vangloriar de que seus produtos são “testados em laboratório” em seres humanos sob ocupação, mais notadamente pelo jornalista australiano Anthony Lowenstein. Seu livro, The Palestine Laboratory, foi adaptado no ano passado em um podcast do Drop Site.
As declarações recém-reveladas sugerem que, em vez de ter sido refreada pela condenação global ao genocídio em Gaza, a indústria de armas do país foi encorajada por ela. “A guerra que enfrentamos nos últimos dois anos permite que a maioria de nossos produtos se torne válida para o resto do mundo”, vangloriou-se Boaz Levy, chefe da Israel Aerospace Industries (IAI), no primeiro dia da conferência. “Começando por Gaza e seguindo para o Irã e para o Iêmen, eu diria que muitos, muitos produtos da IAI estiveram lá.”
O próprio Exército esteve bem representado no encontro. O major-general (res.) Amir Baram é diretor-geral do Ministério da Defesa de Israel e também fez declarações no primeiro dia. “Não se trata de projetos de laboratório nem de conceitos em PowerPoint”, disse ele. “São sistemas comprovados em combate. É isso que a defesa tecnológica significa em Israel, e isso redefiniu a identidade global de Israel. Durante anos, Israel foi conhecido mundialmente como uma nação cibernética. Hoje, evoluímos para uma verdadeira nação de tecnologia de defesa.”
Gili Drob-Heistein, diretora executiva do Centro Interdisciplinar Blavatnik de Pesquisa em Cibersegurança, afirmou que dois anos de liberação da tecnologia de armas israelenses contra palestinos ajudaram a transformar Israel de uma “nação startup” em um ator global da indústria de defesa. “Israel é conhecido por ser a nação startup, e todos nós acreditamos que a tecnologia de defesa tem o potencial de se tornar o próximo grande motor econômico de Israel e além”, disse ela. “A liderança tecnológica de Israel, combinada com inteligência, ousadia e pensamento fora da caixa, continua a gerar resultados impressionantes, como vimos recentemente no campo de batalha durante uma guerra que nos foi imposta em múltiplas frentes simultaneamente. Muitas das tecnologias têm aplicações tanto militares quanto civis.”
Dados sobre as vendas globais de armas sugerem que a ostentação na conferência reflete tendências reais de alta para a indústria de armas israelense, com três empresas israelenses de armamentos aumentando suas receitas combinadas em 16%, para US$ 16,2 bilhões, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI). “A crescente reação negativa às ações de Israel em Gaza parece ter tido pouco impacto no interesse por armas israelenses”, afirmou Zubaida Karim, pesquisadora do Programa de Gastos Militares e Produção de Armas do SIPRI.
Palestrantes da conferência de armamentos realizada neste mês em Tel Aviv. Fonte: DefenseTech-Week.com
A Elbit Systems, a empresa israelense de armamentos que supostamente assinou um acordo multibilionário com os Emirados Árabes Unidos, também esteve fortemente representada na conferência. O vice-presidente executivo Yehoshua Yehuda vangloriou-se de “tecnologias comprovadas em combate” que permitem atingir pessoas mesmo quando “os alvos são menores do que um pixel”.
Os EAU estão financiando e armando as Forças de Apoio Rápido no Sudão, um grupo militante que conduz uma campanha de massacres em massa que está a caminho de eclipsar o genocídio em Gaza, se é que já não o fez.
As armas israelenses estão desempenhando um papel crescente em conflitos globais, disse Levy ao público. “Oitenta por cento da nossa atividade é realmente para exportação — apenas 20 por cento da nossa atividade vai para o mercado israelense”, afirmou. “Acho que tudo o que aprendemos durante esta guerra em Israel impacta nossas capacidades futuras de negócios. E a IAI, neste momento, tem US$ 27 bilhões em novos pedidos e algo como US$ 7 bilhões em vendas todos os anos.”
Ao mesmo tempo, os fabricantes de armas reconheceram que um boicote crescente representa uma ameaça aos seus negócios. “Acho que Israel está enfrentando um boicote”, disse Shlomo Toaff, vice-presidente executivo e gerente-geral da Divisão de Sistemas de Defesa Aérea e de Mísseis da RAFAEL Advanced Defense Systems Ltd. “Nós vimos isso no salão aeronáutico de Paris em junho passado, onde fomos fechados pelos franceses.”
“Isso é algo que precisamos levar em conta quando falamos sobre o que estamos fazendo aqui na indústria”, concluiu.
* Repórter do Drop Site, coapresentador do Breaking Points, autor de We’ve Got People, The Squad e This Is Your Country On Drugs. Reportagem publicada no Drop Site News em 22/12/2025.
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