A Causa Palestina como uma expressão de arte
Grupo folclórico da Região Metropolitana de Porto Alegre completará 15 anos de dança e debates em defesa do povo palestino

As irmãs Fairuz e Soraia Bujaa sabem que a cultura é uma das principais marcas da identidade de um povo. À frente do Grupo Folclórico Palestino Terra há quase 15 anos, elas lutam para preservar no Brasil a tradição da dabka, dança popular da Palestina e de outros países da região, como Líbano, Síria e Jordânia.
Fundado em outubro de 2004 a partir de uma provocação do atual presidente da FEPAL, Elayyan Aladdin, o grupo conta com cerca de 12 participantes – todas mulheres –, divididas nas categorias juvenil e adulta. Homens também são bem-vindos, mas estão faltando interessados.
“Estamos sempre abertas a novos integrantes, seja da comunidade palestina ou não. Temos alunas brasileiras que são bastante interessadas na causa”, destaca Fairuz. Os ensaios, de frequência variável, são realizados em três municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre: Canoas, Sapucaia do Sul e Novo Hamburgo.
“A dabka hoje traz muitas mensagens de resistência”, explica Fairuz. Marcada por batidas de pé e coreografias complexas que lembram a chula gauchesca, a dança é muito comum em casamentos e festas. “É o momento em que se extravasa o amor pela Palestina”, completa Soraia.

O grupo já participou de inúmeros festivais de folclore em todo o Brasil. Sem apoio de nenhum órgão, o financiamento de viagens e demais custos é feito pelos próprios familiares. “É na força de vontade mesmo”, confessa Fairuz.
A última apresentação foi em dezembro, em Tubarão, Santa Catarina, nas comemorações locais do Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino.
Espaço de reflexão e luta
Soraia e Fairuz herdaram do pai, Saleh Ahmad Muhammad Bujaa, o amor pela Palestina. Filho da diáspora, aos 87 anos, ele é um dos principais patrocinadores do grupo. “Um dos maiores orgulhos dele é ter nos transmitido esse sentimento”, relata Fairuz.
Tanto nos ensaios como em apresentações, elas procuram esclarecer questões relacionadas aos conflitos e propor reflexões sobre a atual situação política e social na Palestina. “Muitas das nossas alunas têm familiares que moram lá, então elas sabem das dificuldades que o povo enfrenta”, conta Fairuz.
Em 2016, após uma série de ataques de Israel à Gaza, as integrantes do grupo usaram tarjas pretas nos braços como forma de protesto durante uma apresentação no Festival Internacional de Dança, que ocorreu Nova Petrópolis/RS. No final da exibição, também leva taram cartazes com frases que condenavam a brutalidade do exército israelense.
“Aproveitamos aquele espaço para demonstrar o sofrimento que a gente estava passando, afinal, são nossos compatriotas”, explica Soraia. “Foi uma coisa muito singela, para chamar a atenção sobre o que estava acontecendo naquele momento”. A maioria do público aplaudiu de pé, emocionado, a apresentação, segundo elas, mas também houveram críticas por parte de um pequeno grupo.
“Independentemente do que forem pensar, se vai ou não ter outro convite, a gente faz esse tipo de colocação sempre que acha necessário”, pontua Soraia.
Arte movida a esperança
A relação das irmãs Bujaa com a causa aumenta a cada ano – pelas atividades do grupo, pelos vínculos familiares e pela própria intensificação da ocupação israelense e suas consequências. Ambas viajam frequentemente à Palestina para, entre outros motivos, visitar uma irmã que reside lá.
“Na medida que eu fui envelhecendo, visitando e entendendo tudo o que acontece, tudo foi ficando mais forte”, explica Fairuz. “Está cada vez maior esse desejo de querer transmitir para as pessoas que o que acontece lá é errado. Nós não somos terroristas, estamos lutando pela nossa terra, pelo que é nosso. É justo. É uma causa justa”.
Já Soraia conta que foi à Palestina um pouco antes da Primeira Intifada irromper, em 1987. Ao voltar, 20 anos depois, ficou espantada com a expansão das áreas de controle israelenses na região. “O círculo está cada vez mais fechado para os palestinos. Tu te revoltas cada vez mais”, diz.
Para elas, levar Brasil afora a cultura da terra de seus descendentes é como carregar parte dessa esperança por dias melhores para todo o povo palestino. “É um trabalho de formiguinha”, diz Soraia. “Mas não é possível que se viva eternamente na injustiça”.
“Isso é uma coisa que a gente tem que se agarrar para levar até o fim”, reforça Fairuz. “A minha esperança é que os poderosos sejam cada vez menos gananciosos e pensem mais nas pessoas e nos lugares que elas vivem”.

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