Assassinos silenciosos de Gaza: a ameaça constante de mísseis não detonados

Em Gaza, mísseis e bombas não detonados representam agora uma ameaça silenciosa e persistente para os civis, transformando a vida cotidiana numa aposta mortal.

07/04/2025

Mísseis não detonados são uma ameaça constante em Gaza. (Foto: Shaimaa Eid, fornecida à Palestine Chronicle)

Por Shaimaa Eid*

Sob o céu de Gaza, onde o cheiro da morte ainda paira, o perigo já não vem apenas de um ataque aéreo ou de um bombardeio repentino. Entre os escombros, sob as ruínas e nas ruas e vielas estreitas, um novo assassino silencioso espreita, perseguindo impiedosamente os exaustos moradores da cidade.

Bombas e mísseis que não explodiram se transformaram em minas terrestres silenciosas, prontas para ceifar novas vidas a qualquer momento.

No pequeno bairro de Al-Bassa, em Deir al-Balah, no centro de Gaza, onde a vida foi irremediavelmente alterada, o jornalista Mohammad Nashbat relata sua experiência aterradora com mísseis que não explodiram e ameaçaram sua vida e a de seus filhos.

“Na minha região, especificamente na Rua Tunis, um F-16 lançou dois mísseis que não explodiram. Isso criou um profundo sentimento de medo na comunidade, pois havia uma preocupação constante de que qualquer movimento ou interação pudesse desencadear uma explosão a qualquer momento”, contou ele ao Palestine Chronicle.

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Os mísseis não detonados não são apenas cascos de metal; são bombas-relógio que ameaçam a vida de milhares de deslocados nessas áreas.

“O perigo persiste. Cada minuto que passa parece poder ser o último”, acrescentou Mohammad.

Duaa Rayyan, moradora do campo de refugiados de Al-Nuseirat, compartilha um drama semelhante. “Nosso último deslocamento foi há cerca de oito meses. Depois, recebemos a notícia de que uma bomba de barril não explodida estava alojada acima da nossa casa.”

“No início, ficamos apavorados de voltar, mas as dificuldades de viver em tendas e as doenças que enfrentamos nos forçaram a tomar uma decisão. Limpamos a casa e voltamos”, continuou.

“Uma equipe de especialistas estrangeiros veio e nos alertou para não ficarmos na casa. Disseram que era extremamente perigoso e nos aconselharam a sair. Mas ainda estamos aqui—não temos para onde ir. Somos obrigados a ficar, apesar de tudo”, acrescentou Duaa.

Uma noite de horror em Rafah

A dezenas de quilômetros dali, em Rafah, no sul de Gaza, outra tragédia se desenrola no relato de Randa Abu Aker, que sobreviveu a uma das noites mais aterrorizantes de sua vida em 6 de fevereiro de 2024.

“Em nossa casa de três andares, que estava lotada de deslocados do norte de Gaza, de repente ouvimos um drone de reconhecimento voando em uma altitude perturbadoramente baixa”, contou ela. “Pouco depois, três explosões poderosas sacudiram o prédio. Tudo o que conseguíamos ver era poeira e fumaça enchendo a casa.”

Randa continuou: “Um míssil atingiu a sala de visitas no terceiro andar, matando vários deslocados que estavam lá. Outro míssil atingiu uma área onde pessoas dormiam, também tirando vidas.”

“O terceiro, que não explodiu, ficou alojado no corredor do primeiro andar. Se tivesse detonado, teria causado um massacre enorme, pois a maioria dos deslocados estava reunida no primeiro andar.”

Ao relembrar, Randa descreve o terror que tomou conta de sua família e dos deslocados.

“Ficamos paralisados de medo. Tivemos que evacuar a casa e retirar os corpos dos andares superiores. Pouco depois, equipes especializadas—que naquela época ainda conseguiam atuar—chegaram, desmontaram o míssil e o removeram.”

No entanto, o perigo dos mísseis não detonados vai muito além do impacto inicial.

“Não pudemos voltar ao primeiro andar até termos certeza de que o míssil não explodido havia sido totalmente neutralizado e as equipes de defesa civil confirmaram que a área estava segura”, acrescentou Randa.

Uma catástrofe em Jabalia

Imad Abu Seif, morador do campo de refugiados de Jabaliya, no norte de Gaza, lembra-se de uma memória assombrosa. “Um míssil não explodido caiu perto do Hospital Al-Yemen Al-Saeed nos primeiros dias do último ataque militar ao campo.”*

“O míssil ficou na rua por muito tempo. Mulheres e crianças passavam por ele diariamente, como se fosse apenas mais uma parte da vida em meio à guerra”, continuou.

Falando com voz pesada, Imad descreveu como as pessoas acabaram se acostumando com sua presença, apesar do perigo iminente. “Então, o desastre aconteceu. As forças de ocupação lançaram outro míssil nas proximidades, provocando uma enorme explosão que resultou em um massacre horrível, matando muitos—a maioria crianças.”

Obrigado a fugir de casa, Imad disse: “Esses não são apenas mísseis que não explodiram; são sentenças de morte adiadas, à espera de destruir vidas a qualquer momento. O que vivemos em Gaza não é vida—é uma luta constante com a morte, que espreita em cada esquina.”

Uma ameaça crescente e incontrolável

De acordo com o Escritório de Mídia do Governo em Gaza, aproximadamente 7.500 toneladas de munições não detonadas permanecem espalhadas em casas e sob os escombros. “Há uma necessidade urgente de trazer equipes especializadas e especialistas em explosivos para neutralizar esses resquícios mortais e eliminar sua ameaça”, declarou o órgão.

Organizações internacionais também alertaram que pelo menos 6.000 bombas—das 45.000 lançadas por forças israelenses em Gaza entre 7 de outubro e meados de janeiro—não explodiram, representando um risco contínuo para os civis.

Enquanto isso, o major Mahmoud Basal, porta-voz da Defesa Civil de Gaza, confirmou em um comunicado que muitos mísseis e projéteis permanecem alojados em casas e ruas, não detonados e letais.

Ele enfatizou que esses resquícios representam um perigo significativo, pois podem explodir devido a uma detonação secundária nas proximidades ou até mesmo por manipulação de crianças—algo que, tragicamente, já causou a morte de crianças palestinas em Gaza ao longo de anos de guerras e escaladas.

Em resposta, equipes de defesa civil têm marcado áreas perigosas com sinais de alerta ou erguido barreiras de pedra ao redor delas.

Basal pediu aos moradores que relatem imediatamente qualquer munição não detonada e mantenham distância segura. “Esses resquícios estão por toda Gaza”, alertou. “Eles incluem mísseis, bombas de drones, munição viva e projéteis de artilharia—todos representando uma ameaça iminente e imprevisível para os civis.”

* Reportagem publicada em 17/03/2025 no The Palestine Chronicle.

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