Hamas desafia “israel” a permitir investigação independente sobre as acusações de crimes cometidos no 7 de outubro
Mesmo depois de dois anos, "israel" admite que não conseguiu encontrar provas dos supostos crimes. Por isso, bloqueia qualquer tentativa independente de investigá-los. As falácias espalhadas pela imprensa internacional não se sustentam, e isso é reconhecido por órgãos da ONU e entidades internacionais
Manifestantes israelenses protestaram contra as falsificações sionistas do 7 de outubro, criando um boneco de Netanyahu com um grande nariz de mentiroso. Tel Aviv, 26 de novembro de 2025 (Foto: Jack Guez)
Esta semana, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) publicou um extenso documento intitulado Our Narrative… Al-Aqsa Flood: Two Years of Steadfastness and the Will for Liberation (Nossa narrativa… Dilúvio de Al-Aqsa: Dois anos de firmeza e a vontade de libertação), no qual revisita os acontecimentos de 7 de outubro de 2023 e, sobretudo, confronta frontalmente as mentiras espelhadas pelo regime de “israel” e sua indústria de propaganda.
O texto, com mais de 40 páginas, não apenas reitera o ponto de vista do partido sobre as motivações e resultados da operação de outubro de 2023, mas lança um desafio: que “israel” permita e aceite uma investigação internacional independente sobre as acusações levantadas contra a resistência palestina relativas a violações de direitos humanos naquele dia.
O documento denuncia o genocídio e tentativas sistemáticas de aniquilar o povo palestino, comprovados e reconhecidos por algumas das mais altas instâncias internacionais, enquanto denuncia o que tacha de “narrativa sionista” dominante como sendo falaciosa e construída para ocultar os crimes contra a humanidade cometidos pelas forças israelenses.
No cerne da crítica à propaganda israelense, o Hamas argumenta que a narrativa israelense sobre 7 de outubro carece de credibilidade, pois foi construída e difundida em um ambiente de guerra de informação global, marcado por interesses políticos que buscam justificar uma campanha militar de quase dois anos contra Gaza.
“Desde o primeiro momento do ataque de 7 de outubro, a entidade israelense tentou distorcer a verdade. Lançou uma máquina global de desinformação, envolvendo a imprensa ocidental e grupos de lobby sionistas, para transformar a legítima operação militar — que teve como alvo a Divisão Gaza do exército israelense, uma unidade militar que vinha perpetuando assassinatos e o cerco contra Gaza — em alegações de ataque deliberado a civis e crianças”, afirma o material.
“A entidade israelense promoveu uma série de mentiras e falácias sobre o assassinato de crianças e o estupro de mulheres, abrindo caminho para avançar com um projeto de genocídio total que já estava previamente planejado e tinha como objetivo apagar Gaza da existência”, completa.
- As acusações de crimes – incluindo homicídios de civis, violência sexual, e outras formas de atrocidades – precisam ser confrontadas com uma investigação internacional imparcial, que envolva instituições e especialistas independentes, e não painéis coordenados diretamente por governos explicitamente alinhados com “israel” e patrocinadores do genocídio.
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O documento destaque que, desde os primeiros dias do ataque, a resistência se ofereceu para libertar israelenses não militares que haviam sido apreendidos. “Contudo, a entidade israelense rejeitou essa oferta e só a aceitou durante uma breve trégua de uma semana em novembro de 2023, durante a qual aproximadamente cem prisioneiros foram libertados”, ressalva.
- A própria existência de uma investigação transparente permitiria confrontar “testemunhos manipulados” e evidências cuja interpretação foi distorcida pelos meios de comunicação e por atores estatais, em especial os maiores financiadores da máquina sionista de matar crianças palestinas
- – Estados Unidos e União Europeia.
A crítica central delineada pelo Hamas às mentiras israelense repousa em três eixos:
1. Questionamento das fontes e da própria confiabilidade das acusações
O documento acusa o regime sionista de usar alegações sobre crimes graves cometidos por militantes como meio para justificar o genocídio prolongado, deslocamento forçado e destruição sistemática da infraestrutura civil.
“Durante a operação Dilúvio de Al-Aqsa, em 7 de outubro, a resistência não atacou nenhum hospital, escola ou local de culto; não matou um único jornalista nem qualquer membro de equipes de ambulância. Desafiamos a entidade a provar o contrário”, diz o Hamas.
Pelo contrário: investigações jornalísticas da própria imprensa israelense admitiram que o exército bombardeou áreas onde civis israelenses estavam misturados a combatentes das Brigadas Al-Qassam, como parte do que é conhecido como a diretiva “Hannibal”, destinada a impedir a possível captura de soldados israelenses. Também foi revelado que um grande número de soldados da reserva e recrutas estava usando roupas civis ou estava fora de serviço militar durante a operação.
A diretiva “Hannibal” é um procedimento militar do exército israelense criado originalmente em 1986 com o objetivo de impedir que soldados sejam capturados por forças inimigas, mesmo que isso signifique o uso de força extrema. O princípio controverso da doutrina é que, para evitar uma captura — situação considerada politicamente embaraçosa — as forças envolvidas devem empregar todo tipo de força, inclusive sob o risco de matar o próprio soldado capturado, com a lógica de que “um soldado morto é preferível a um soldado levado cativo”.
A diretiva foi mantida em grande parte sob sigilo nas décadas seguintes, com partes de sua existência sendo conhecidas apenas por membros das forças armadas e analistas militares. Contudo, poucos meses após o 7 de outubro, o jornal israelense Haaretz publicou uma série de reportagens baseadas em documentos militares e depoimentos de oficiais que analisaram as ordens emitidas no dia do ataque. Outros veículos como The Guardian também mencionaram que a diretiva foi aplicada em 7 de outubro com potencial risco para civis e soldados, citando documentos e depoimentos de oficiais militares israelenses. O próprio Jerusalem Post, um dos principais jornais israelenses e propagandista do genocídio, teve de reconhecer o fato.
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2. Descaso com investigações externas e proposta de alternativa independente
A posição israelense tem sido largamente relutante quanto à investigação externa independente sobre seus próprios atos. Em dezembro de 2025, o parlamento israelense avançou com a criação de uma comissão de investigação interna — seletiva e sob controle governamental — sobre os acontecimentos de outubro de 2023, rejeitando demandas por comissões independentes nomeadas por tribunal supremo ou órgãos neutros. Essa abordagem foi amplamente criticada interna e externamente por sua falta de credibilidade e por buscar proteger figuras políticas em vez de buscar a verdade.
Tentativas anteriores de encontrar provas de crimes cometidos pelo Hamas já foram frustradas. No começo de 2025, a promotora responsável pelos chamados casos de segurança no distrito sul de “israel”, Moran Gez, admitiu, em entrevista ao jornal Yedioth Ahronoth que não haviam sido encontradas evidências concretas contra qualquer indivíduo que participou da operação, mesmo após recorrer “a grupos de direitos das mulheres”, aos quais ela pediu cooperação. “Eles nos disseram que simplesmente não foram abordados”.
“As leis comuns de evidências não são adequadas neste caso. Não há redes organizadas de evidências, não há ninguém que filmou os vídeos que você gostaria de apresentar no tribunal”, admitiu Gez. Ela confirmou que 15 meses após os eventos, “israel” ainda não havia identificado uma única vítima na qual uma acusação possa ser movida contra um suposto perpetrador de um ataque sexual. “Infelizmente, será muito difícil provar esses crimes”, reconheceu, acrescentando que, “no final, não temos reclamações”.
As confissões da promotora corroboram as conclusões de órgãos internacionais. Quando o promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, solicitou mandados de prisão contra líderes do Hamas em maio de 2024, ele não incluiu nenhuma alegação de estupro em 7 de outubro de 2023.
Dois relatórios separados da ONU não conseguiram verificar nenhuma das alegações de estupro feitas por “israel”, descobrindo nos extensos materiais que revisaram, incluindo milhares de fotografias e vídeos, que não havia “nenhuma indicação tangível de estupro”, bem como uma “ausência de evidências forenses de crimes sexuais”.
Um deles afirma que várias alegações israelenses de violência sexual ou de gênero em 7 de outubro, incluindo o amplamente divulgado corte de um feto do útero de sua mãe, provaram ser “infundadas”.
O segundo relatório também reconheceu que alegações específicas de violência sexual foram determinadas como “falsas, imprecisas ou contraditórias”.
Em julho, Reem Alsalem, relatora Especial da ONU sobre violência contra mulheres e meninas, afirmou que a ONU não encontrou violência sexual sistemática. “Segundo entendo, nem a Comissão nem qualquer outro mecanismo independente de direitos humanos estabeleceram que houve violência sexual ou baseada em gênero contra israelenses em ou desde 7 de outubro como ferramenta sistemática de guerra ou genocídio”, escreveu Alsalem, segundo a NBC News.
A comissão da ONU que investiga possíveis casos de violência sexual “também não conseguiu verificar de forma independente alegações específicas de violência sexual e de gênero devido à obstrução israelense”, disse ela.
Os esforços colossais das autoridades israelenses para encontrar provas concretas de crimes cometidos pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 nunca deram em nada. Isso levou às forças legais do regime a buscarem modificar as leis e procedimentos para que não se necessite de provas para incriminar os combatentes palestinos — e, sobretudo, para amplificar a propaganda mentirosa a nível internacional.
“É importante enfatizar que não estamos falando aqui da identificação visual de autores específicos. Estas testemunhas estabelecem diretamente a ocorrência de violência sexual durante o ataque. Segundo o modelo que propomos de responsabilidade criminal, a responsabilidade daqueles que participaram do ataque em massa é entendida como conjunta, e por isso não é necessário provar uma ligação direta entre um autor específico e um ato ou vítima específica de violência sexual”, concluiu um relatório divulgado em meados deste ano, sinalizando para a inclusão dos supostos ataques na categoria de “crime de multidão”, uma manobra jurídica sem base legal para permitir repressão e perseguição políticas generalizadas.
A falta de cooperação de “israel” com figuras internacionais que investigam a violência é uma das principais falhas destacadas em um relatório divulgado em janeiro deste ano pela Rede de Mulheres de “israel” e pelo Coletivo de Documentação e Pesquisa sobre Mulheres e Guerra, um grupo de pesquisadores e ativistas que coletou e catalogou informações sobre a suposta violência sexual ocorrida em 7 de outubro e suas consequências.
O relatório também destaca como a questão da violência sexual foi apropriada para fins de relações públicas, diz o Haaretz. Além disso, o relatório aborda a falta de participação da sociedade nos processos de apuração da verdade sobre a propagada violência sexual de 7 de outubro.
Nesse contexto, o desafio do Hamas por uma investigação independente expõe uma contradição: enquanto “israel” se esquiva de mecanismos externos de verificação objetiva, acusando o movimento de atrocidades, o documento propõe que uma investigação internacional séria e imparcial estabeleça os fatos.
“Desafiamos os israelenses a permitir uma investigação internacional imparcial sobre as alegações de mortes de civis israelenses em 7 de outubro, assim como os desafiamos a concordar com uma investigação internacional imparcial e neutra sobre os crimes que cometeram contra o povo palestino, especialmente durante sua recente guerra contra Gaza”, termina o trecho do documento sobre o tema.
3. Críticas à manipulação da máquina de propaganda pró-“israel”
O documento também contém críticas implícitas aos grandes veículos de comunicação que operam sob pressões políticas para sustentar a propaganda israelense. Isso encontra eco em relatos independentes que destacam casos de desinformação e manipulação informacional ao longo do genocídio, nos quais relatos iniciais foram posteriormente contraditos por evidências e revisões, evidenciando como a verdade foi uma das primeiras vítimas da máquina genocida israelense.
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Ecoando as mentiras do regime sionista, em dezembro de 2023 o New York Times publicou uma extensa investigação afirmando que combatentes do Hamas haviam estuprado sistematicamente mulheres israelenses no 7 de outubro. A reportagem chocante baseava-se em testemunhas anônimas, vídeos não verificados e relatos de segunda mão — e, ainda assim, foi apresentada como prova conclusiva de estupros em massa.
Em poucos dias, o texto moldou o discurso internacional. O então presidente dos EUA, Joe Biden, e líderes europeus invocaram a reportagem para condenar a resistência palestina e justificar a “retaliação” israelense.
Mas, quando jornalistas e pesquisadores começaram a verificar as provas, a história desmoronou. A repórter Anat Schwartz, que participou da infame manipulação do The New York Times, posteriormente fez uma extensa varredura em hospitais israelenses, centros de tratamento de vítimas de estupro e outras instalações especializadas, e não conseguiu encontrar uma única vítima de algum ataque sexual em 7 de outubro.
“Ninguém conheceu uma vítima de agressão sexual”, explicou Schwartz em uma entrevista ao Canal 12 de Israel no ano passado.
Peritos forenses não encontraram evidências físicas de estupro. Várias das supostas testemunhas citadas pelo Times se contradisseram ou foram posteriormente desacreditadas.
A família de Gal Abdush, apresentada em luto na primeira página do jornal, declarou que ela não havia sido estuprada, ao contrário do que o veículo havia afirmado. Abdush era a chamada “mulher do vestido preto”, foco do artigo. Ainda assim, sua família não foi informada pelos repórteres de que a matéria mencionaria violência sexual.
Em abril de 2024, mais de 50 professores de jornalismo publicaram uma carta exigindo uma revisão independente das fontes e do processo editorial do artigo. O Washington Post relatou dissidências internas dentro da própria redação do Times, onde repórteres disseram que o texto havia sido “apressado” para atender a expectativas políticas.
O pedido do Hamas por uma investigação externa não é apenas uma estratégia retórica: ele aponta para a necessidade real de mecanismos multilaterais que possam analisar acusações e evidências sem a parcialidade observada em comissões compostas por autoridades ou paus-mandados de Netanyahu.
Esse desafio, colocado em um documento longo e detalhado, não é meramente formal, mas se articula num contexto em que a própria credibilidade das versões oficiais israelenses tem sido questionada por observadores externos, organizações de direitos humanos e entidades internacionais que documentaram falhas de investigação e parcialidade do regime sionista.
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