A catástrofe sem fim

15/05/2025
Por: Mansour Salum Husein

Aqui, sob este domo dourado,

Encosto minha testa no chão

Lágrimas de meus olhos correm,

Pois dessa terra o povo me é sagrado.

Arrancada foi do chão a oliveira.

 

Nasceu nesta terra o Messias profetizado

Refugiado, fugiu da perseguição

Cruza o Sinai enquanto meninos morrem

O Rei da matança de inocentes foi poupado

O sangue infantil lavou a terra inteira.

 

Perdoa-me, rei-menino, estou desarmado

Não pude proteger da morte meu irmão

Tampouco posso impedi-los de sofrerem

Nosso povo por chuva de fogo açoitado

Bebês sob o fogo, fugindo em algibeiras.

 

Os fariseus, com seus trajes empoleirados

Como abutres, querem o fruto da podridão

Crêem eles que depois de terra arrasarem

Dela irá nascer, seu falso messias aguardado

Ainda que precipitem ao chão cidades inteiras.

 

Tu que estás à direita do Trono Dourado

Observa se o Cálamo prescreve um senão

Para quem queimou as árvores enfrentarem

Pois a Justiça há de vir do céu anuviado    

Onde mártires repousam suas bandeiras.

 

Passaste por Gaza após cair o tirano derrotado?

Lembras dessa terra de cores em profusão?

Onde as figueiras a tudo assistirem

Contam as histórias desse povo aguerrido

Enquanto resistem ao avanço das escavadeiras.

 

Onde estão os milhões de árabes revoltados?

que fim levou a chama da Revolução?

Tu, que com o chicote fez os vendilhões correrem

Inspira no meu povo teu espírito enfurecido

Que lutem e parem o massacre das melancieiras.

 

Como podem dizer que teu evangelho têm seguido?

se comemoram cada inocente que devolvemos ao chão

Inimigos de Deus se regozijam vendo crianças sofrerem.

Não fomos todos do mesmo barro moldados

Pelo Misericordioso Deus da ardente espinheira?

 

Esqueceram os dez mandamentos revelados?

Que não devem roubar ou matar o irmão?

Não cobiçar o que Deus agraciou a outrem.

Nem atacar a castidade do corpo aprisionado

Não refletem que agora seu ídolo é uma bandeira?

 

Anciãos sobreviventes foram silenciados 

Ao se levantarem contra essa nação 

Ainda que “Não em nosso nome” disserem

O horror do Holocausto lhes foi sequestrado

Sua dor roubada por ideologia traiçoeira

 

Como pode o mundo ser pelo ódio alimentado?

Destroçar tantas mulheres, crianças, e anciãos

Como vampiros de sangue se alimentarem

Rituais satânicos, sacrifícios humanos performados

A Terra Santa profanada pelos pecados das rameiras

 

O som dos aviões não permite sono merecido

Os refugiados não podem faltar a atenção 

Pois se ao menor segundo se distraírem

Poderão seus corpos ser desmembrados

E suas casas reduzidas a entulhos de pedreira

 

Não há mais hospitais para cuidar dos feridos

Não há mais escolas para levar a educação 

Não há mais comida para se alimentarem

Pele e osso como esqueletos maltratados

Auschwitz ecoa nas casas e trincheiras.

 

Nosso povo não perde a fé no que foi revelado

Não se dobra sob as dores da inanição

Reza aos som dos minaretes ouvirem

E dão graças por mais um dia superado

O Holocausto não será a última fronteira

 

Apelo a ti Jesus, profeta mais amado

Rezo ao Senhor dos Mundos por redenção 

Que a Ummah ao teu chamado atenderam 

E que se ergam contra o anticristo armado

Munidos de Solidariedade quebrem a fronteira

 

Sonho com o dia que essa Nakba acabará

E que a Palestina finalmente livre se erguerá!

Mansour Salum Husein é Secretário de Relações com os Movimentos Sociais da Fepal