RS: Assembleia Legislativa lança relatório sobre direitos humanos com participação da Fepal

Evento de lançamento teve como um dos principais destaques a solidariedade à Palestina

10/12/2024

Evento também foi marcado pela solidariedade à Palestina. (Foto: Nathália Schneider)

Foi lançado na manhã desta terça-feira (10) o Relatório Azul 2023-2024: Garantias e violações dos direitos humanos no Rio Grande do Sul, em evento na Assembleia Legislativa do Estado.

O relatório, que completa 30 anos, reúne denúncias, análises e avanços conquistados na área dos direitos humanos no Rio Grande do Sul, com foco na proteção das pessoas mais vulneráveis.

A edição especial de 30 anos contém um texto, entre as páginas 321 e 324, de autoria do presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah. Nele, o autor recorda os laços entre o estado do sul do Brasil e a Palestina, principalmente migratórios.

“O RS é o estado brasileiro que abriga o maior contingente de imigrantes e refugiados palestinos e seus descendentes, que no Brasil estão exatamente em virtude, especialmente, dos eventos catastróficos que se deram em sua terra ancestral” a partir da Nakba, a limpeza étnica iniciada pelos euro-judeus para expulsar os palestinos de sua própria terra, iniciada em 1947.

Rabah destaca a fase do genocídio aberta em 7 de outubro de 2023, que já levou a mais de 53 mil palestinos mortos por “israel” em Gaza, como consequência mais trágica das aberrantes e grosseiras violações de direitos humanos aos olhos de toda a comunidade internacional, televisionadas 24 horas por dia.

Ao site da Fepal, o dirigente diz ainda que “a Palestina figurar na edição especial deste relatório é um importante reconhecimento da relevância da comunidade brasileiro-palestina no Rio Grande do Sul neste momento de genocídio televisionado na Palestina”.

Esta edição do relatório ocorre sob a presidência da deputada estadual Laura Sito (PT) na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (ALRS). Laura, uma defensora da Causa Palestina, fez questão de vestir o tradicional kuffyeh durante todo o evento, realizado no Salão Júlio de Castilhos, na ALRS. Também convidou o grupo folclórico palestino Terra para realizar uma apresentação artística.

“Falar em direitos humanos e silenciar sobre o maior extermínio de civis, especialmente de mulheres e crianças, em Gaza, não é uma opção, especialmente porque o genocídio de ‘israel’ busca eliminar a ideia mesma de direitos humanos, acabando com o Direito Internacional”, conta Rabah.

Ele continua: “falar da Palestina é falar também de Brasil e de todo o mundo, porque o que se dá na Terra Santa é um modelo sendo aplicado na prática para, depois, se tornar um modelo planetário.”

“Se “israel” e o genocídio palestino forem normalizados, a questão passa a ser: onde e quando se aplicará o modelo sionista de solução final”?, conclui.

Leia, abaixo, o texto de Ualid Rabah para o Relatório Azul 2023-2024:

 

Genocídio na Palestina e RS têm muito a ver

Pode soar estranho que num relatório sobre os Direitos Humanos que tem por geografia e demografia o Estado do Rio Grande do Sul se fale sobre a Palestina, outro país, muito distante do Brasil, com outra história, inclusive milhares de anos anterior, outras cultura, língua, religião majoritária e, ainda, sequer “ocidental”. Bem, mesmo que Direitos Humanos de outro canto do mundo devam ser debatidos em qualquer lugar, até porque, em muitos casos, trata-se de paradigma, muitas vezes – por que nos importávamos tanto com o Apartheid na África do Sul, por exemplo? – até potencial precedente, capaz de servir de modelo para o resto do mundo.

No caso da Palestina é isso, já que temos um precedente em curso, em que pela primeira vez na história um experimento colonial tem como pressuposto a integral limpeza étnica da população originária, a palestina, para instalação, em seu lugar, de uma nova, feita imigrar com o propósito de substituí-la. Esta é a base da limpeza étnica que leva a que mais de 40% da população palestina atual esteja fora de suas terras, casas e negócios desde 1947/51, bem como que toda a Palestina esteja há 77 anos subordinada a um regime de Apartheid e sob limpeza étnica continuada, cujo genocídio televisionado em Gaza é mero capítulo, embora o mais mortífero da história palestina.

Mas não é apenas isso. O RS é o estado brasileiro que abriga o maior contingente de imigrantes e refugiados palestinos e seus descendentes, que no Brasil estão exatamente em virtude, especialmente, dos eventos catastróficos que se deram em sua terra ancestral a partir de 17 de dezembro de 1947, momento histórico que, até outubro de 1951, levou à maior limpeza étnica da história (88% da população palestina foi expulsa ou morta – 15 mil – dos 78% de seu país tomados para se tornarem “israel”), à invasão de 774 localidades palestinas milenares, das quais 531 foram destruídas, tudo isso resultando nos atuais 6,2 milhões de refugiados palestinos, com seus descendentes, dos quais quase 1,8 milhão vivem em Gaza (73% dos habitantes deste território palestino são refugiados e seus descendentes).

Esta parcela da população brasileiro-palestina se ressente disso até os dias de hoje, bem como agora vive situação diversa das outras populações imigradas no Brasil, dado o drama de seu povo, agora submetido, especialmente em Gaza, ao maior extermínio, proporcionalmente, de todos os tempos. E tudo isso em reprise televisionada do que sempre foi, a partir de 1947, o plano colonial para a Palestina, em execução a 77 anos. Logo, esta parcela da população do RS vive na pele, todos os dias, o medo do extermínio de todo o seu povo, toda a sua ancestralidade, a destruição de suas cidades e matança de seus familiares, levando à desaparição planejada de milhares de ano de história. Temem nunca mais poder voltar, ainda que em mera visita familiar, à Palestina. Temem nunca mais haver uma Palestina!

Mais do que isso, o que se dá na Palestina é um precedente que, se prosperar, implicará em modelo de construção de estado nacional de estrangeiros em terra previamente habitada, bastando que esta seja determinada e, depois desalojada ou exterminada sua população, limpada etnicamente. Isso implica em falência do Direito Internacional, dos Direitos Humanos, de todas as organizações e estruturas construídas por séculos para impedir novos genocídios, regimes de Apartheid, colonialismo, guerras, conquistas territoriais pela força e outros crimes de lesa-humanidade. Significa que as convenções para o genocídio, colonialismo e Apartheid, e até mesmo a Carta das Nações Unidas, terão sido superadas.

Agora, em Gaza, os exterminados superam os 53 mil, considerando 10 mil desaparecidos sob escombros, ou 2,4% da demografia do enclave, o equivalente a 4,9 milhões no Brasil e 18,1 milhões na Europa da 2ª Guerra Mundial por sua demografia atual. Isso em um ano! Nos seis anos daquela guerra, seriam 110 milhões, mais que os 70 milhões mortos de 1939 a 1945.

A revista The Lancet fala em 4 mortes indiretas para cada morte diretamente provocada pela máquina genocidária de “israel” em Gaza. Seriam, já, 215 mil exterminados em Gaza, 9,66% de sua população. Nada equivale, na história, a esta magnitude genocidária que, aplicada ao Brasil de hoje, levaria ao extermínio 19,8 milhões de nosso povo e, para a Europa atual pela geografia da 2ª GM, inacreditáveis 73 milhões de mortos.

Estamos falando de um ano! Para melhor comparação proporcional ao período hitleriano, precisamos considerar que este foi de seis anos, ou seja, a Europa teria, no mesmo tempo, porém com a fúria genocida de “israel”, 437 milhões de mortos hoje, 60% de sua população.

Dentre as obscenidades genocidárias em Gaza, se destaca o extermínio de crianças, hoje em 21,1 mil, considerando as desaparecidas sob os escombros, ou 40% do total de exterminados. Pelo critério da Revista The Lancet, este número poderia alcançar 85,5 mil. Atualmente, “israel” exterminou, em um ano, 9.504 crianças palestinas por milhão de habitantes de Gaza, 3,4 vezes mais que as 2.813 por milhão no período hitleriano.

E se The Lancet confirmar seus prognósticos, o extermínio da infância palestina chegaria a 38 mil crianças por milhão de habitantes em Gaza, ou 13,5 vezes mais que na 2ª GM. E se contarmos isso para seis anos daquela guerra, bem, aí é assustador: 81 vezes mais por “israel” que no período hitleriano!
Os feridos já são 105 mil, ou 4,72% da população do enclave, o que daria quase 10 milhões no Brasil e ao redor de 35 milhões na Europa da 2ª GM por sua demografia atual. Em Gaza, quase todos feridos com gravidade ou mutilados, sem hospitais, médicos, remédios, água ou comida, em barracas de pano, ou seja, programados para morrer. Colapsariam os sistemas de saúde brasileiro e europeu.

Se este processo genocidário triunfar, “israel” se fazer sobre a Palestina limpada etnicamente, e tudo isso no primeiro genocídio televisionado da história, estaremos diante da possibilidade de o modelo ser aplicável em qualquer parte do mundo, inclusive no RS. Logo, tal qual a 2ª GM e o que se deu nela, ou o regime segregacionista branco da África do Sul, barbáries contra as quais nos opomos ainda hoje, o que se dá na Palestina nos diz respeito enquanto humanidade, onde quer que estejamos. Afinal, a questão foi e permanece esta: onde e quem será o próximo?

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