Não há mais como negar o apartheid israelense
17/02/2022Relatório da Anistia Internacional soma-se a uma extensa lista de publicações, convenções e resoluções sobre os crimes contra a humanidade cometidos por Israel na Palestina
A Anistia Internacional, uma das maiores ONGs de direitos humanos do mundo, publicou no último dia 1º de fevereiro o relatório “O apartheid israelense contra a população palestina”.
O documento de 280 páginas analisa em detalhes o cruel sistema de opressão e dominação imposto pelo governo israelense contra a população árabe palestina, em benefício da população judaica da região.
Segundo o relatório, os principais componentes deste crime contra a humanidade são: a fragmentação territorial, segregação e controle, desapropriação de terras e propriedades e a negação de direitos econômicos e sociais.
Tudo isso feito sistematicamente, sob controle do Estado.
Para a Anistia Internacional, e para esta Federação Árabe Palestina do Brasil e todo o movimento global pela libertação da Palestina, está na hora de Israel desmantelar este sistema!
Está na hora de a comunidade internacional pressionar Israel pelo fim do apartheid!
Baixe aqui o relatório completo: em espanhol | em inglês
E leia no site da Anistia Internacional (em espanhol) o excelente texto de lançamento da campanha contra o apartheid israelense
Pilha de provas e denúncias
O relatório da Anistia Internacional soma-se a uma extensa lista de publicações, convenções e resoluções feitas nas últimas décadas sobre os crimes de apartheid e limpeza étnica cometidos por Israel.
“O relatório coroa o acúmulo de provas sobre o apartheid, comprovado e denunciado já há décadas por inúmeras organizações, estudos independentes de observadores internacionais e até mesmo entidades e intelectuais israelenses”, avalia o presidente da FEPAL, Ualid Rabah.
“Mesmo que não seja uma novidade, é de extrema relevância para a opinião pública em geral e para a comunidade internacional ver agora este pronunciamento oficial por parte da maior organização civil de direitos humanos do mundo”, completa.
Em julho do ano passado, a ONG Human Rights Watch, outra gigante global na defesa dos direitos humanos, denunciou os crimes de Israel num relatório de 213 páginas chamado “Um limite ultrapassado: autoridades israelenses e os crimes de apartheid e perseguição”.
Em 2020, a ONG israelense B’Tselem foi outra a admitir, após resistir por anos a esta classificação, que há “Um regime de supremacia judaica do Rio Jordão ao Mediterrâneo: o apartheid” em todo o território da Palestina histórica.
O texto original traduzido foi publicado neste site da FEPAL (leia).
Este são apenas exemplos recentes. Em 2004, a Corte Internacional de Justiça de Haia, na Holanda, declarou que o muro construído por Israel na Cisjordânia viola as leis internacionais e promove o apartheid, exortando a ONU a tomar medidas para interromper a construção.
A barreira de 760 km, que em alguns pontos chega a 8 metros de altura, está em constante expansão e é mundialmente conhecido como o “muro do apartheid”.
Richard Falk, professor emérito de direito internacional na Universidade de Princeton e ex-relator especial da ONU sobre a situação dos territórios palestinos ocupados, também classificou como apartheid, em 2014, a opressão sistemática do povo palestino por Israel.
Durante seis anos ele coordenou um relatório independente sobre o tema para o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que posteriormente seria descartado pelo órgão por pressão de Israel e seus aliados.
Ainda antes, em 2008, Falk, um judeu estadunidense, comparou as ações das forças israelenses na Faixa de Gaza à dos nazistas na Europa durante a Segunda Guerra.
Até mesmo um escritor brasileiro, também judeu, já denunciara este crime.
No seu livro-reportagem “O apartheid de Israel” (Editora Alfa Omega, 2001), Nathaniel Braia remonta a violenta história da ocupação colonial da Palestina e da expulsão de sua população autóctone da região, reconhecida até mesmo pelos tribunais locais e cofinanciada pela maior potência militar e econômica do mundo, os EUA.
Braia, que hoje é redator para questões internacionais no jornal Hora do Povo, viveu em Israel e militou em grupos anti-sionistas. Ele foi preso seis vezes, todas por se recusar a servir ao exército israelense.
A reação previsível de Israel
Antes mesmo de o relatório ser publicado, Israel já havia o classificado como antissemita, numa estratégia cada vez mais batida de tentar desviar o foco das acusações.
Em comunicado à imprensa, o chefe da diplomacia israelense, Yair Lapid, pediu que a AI não publicasse o relatório, acusando a ONG de “não ser uma organização de direitos humanos, mas uma organização radical”.
De Jerusalém, a secretária-geral da ONG, Agnès Callamard, respondeu as acusações, mantendo a publicação do relatório.
“O relatório é resultado de quatro anos de trabalho, pesquisa e comprometimento com a base do movimento Anistia. Temos 70 seções no mundo representando 10 milhões de pessoas que apoiam este relatório e estão prontas para sua publicação”, afirmou.
Para o presidente da FEPAL, a banalização do “antissemitismo”, usado reiteradamente por Israel como um escudo para ocultar seus crimes, desmoraliza o termo e coloca em risco seu próprio significado.
“Esta alegação indiscriminada e indevida de ‘antissemitismo’ já soa quase como uma fake news quando é proferida pelas autoridades israelenses”, avalia Ualid.
“Essa banalização tem de ser combatida por todos, inclusive para preservar o seu valor simbólico, para que as pessoas de fé judaica jamais voltem a sofrer os crimes e perseguições que sofreram, e que hoje nós palestinos sofremos justamente nas mãos daqueles que instrumentalizam esse conceito”, conclui.
Assista abaixo o vídeo oficial de lançamento da campanha da Anistia Internacional, legendado e publicado pela FEPAL em suas redes:
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