A guerra de desinformação de “israel” contra os palestinos

O governo israelense e seus afiliados elaboraram uma estratégia multifacetada para desumanizar os palestinos e, por fim, legitimar sua terrível violência.

09/03/2025

Imagem gerada por IA (nós também sabemos usá-la, mas somos transparentes - ao contrário dos agentes sionistas)

Por Ahmad Qadi*

Desde o início de sua guerra genocida contra Gaza, Israel reconheceu o espaço digital como um campo de batalha crucial, tendo compreendido há muito tempo o poder das narrativas online. Paralelamente aos seus esforços de destruição e limpeza étnica no terreno, o país travou uma guerra digital implacável com o objetivo de silenciar a narrativa palestina.

Empregando uma variedade de estratégias para dominar o discurso digital, Israel investiu vastos recursos para suprimir as vozes palestinas online. No entanto, apesar de suas extensas capacidades, controlar a narrativa digital tem se mostrado muito mais desafiador, já que os esforços para apagar as realidades palestinas online espelham suas ações no terreno.

Como uma tática-chave em sua guerra digital, Israel implantou campanhas de desinformação para desacreditar os palestinos, corroer a empatia por eles, deslegitimar suas reivindicações e justificar seus ataques genocidas.

Campanha maciça de desinformação

Após o dia 7 de outubro de 2023, Israel lançou uma operação de influência em grande escala e uma campanha de desinformação para justificar seus ataques em larga escala contra civis e infraestruturas palestinas na sitiada Faixa de Gaza. Simultaneamente, esses esforços visavam deslegitimar as reivindicações palestinas por suas terras e direitos, enquanto os desumanizava.

O Ministério dos Assuntos da Diáspora de Israel financiou uma campanha secreta destinada a influenciar legisladores americanos, particularmente democratas, direcionando a eles narrativas pró-Israel. Esse esforço incluiu o uso de conteúdo gerado por inteligência artificial (IA) em sites e plataformas de mídia social.

O governo israelense também foi associado a campanhas que espalham islamofobia e sentimentos anti-muçulmanos como parte de sua estratégia mais ampla de desinformação. O Ministério dos Assuntos da Diáspora alocou aproximadamente US$ 2 milhões para essa operação de desinformação, que buscava desumanizar os palestinos e espalhar alegações falsas.

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A OpenAI identificou e interrompeu campanhas de desinformação envolvendo grupos israelenses que utilizaram IA para gerar conteúdo, incluindo comentários curtos e artigos longos em vários idiomas. Israel implantou ferramentas de IA e fazendas de bots para amplificar a desinformação, com o objetivo de influenciar a opinião pública e desumanizar ainda mais os palestinos.

Um desses esforços envolveu a empresa israelense STOIC, que, com financiamento do Ministério dos Assuntos da Diáspora, usou IA para produzir artigos e comentários em plataformas como Instagram, Facebook e X (antigo Twitter). Essas narrativas geradas por IA foram estrategicamente direcionadas a públicos no Canadá, nos EUA e em Israel. Para amplificar o alcance dessas narrativas, o Ministério dos Assuntos da Diáspora financiou uma operação secreta, aproveitando o conteúdo gerado por IA da STOIC para moldar o discurso público e influenciar legisladores americanos, usando ferramentas como o ChatGPT da OpenAI.

Campanha manipulativa no YouTube

Paralelamente, o Ministério das Relações Exteriores de Israel lançou uma campanha emocionalmente manipulativa no YouTube, com o objetivo de desumanizar os palestinos.

A campanha foi analisada em um relatório produzido pela 7amleh – O Centro Árabe para o Avanço das Mídias Sociais, que concluiu que grande parte do conteúdo promovido era emocionalmente carregado a ponto de violar os padrões da comunidade do YouTube.

A campanha apresentou uma onda de anúncios gráficos projetados para provocar fortes reações emocionais dos espectadores. Em apenas três semanas após o dia 7 de outubro, o ministério criou 200 anúncios direcionados a países da Europa—como Alemanha, França, Suíça, Bélgica, Reino Unido e EUA—alcançando milhões de espectadores. Esses anúncios faziam parte de uma estratégia mais ampla para moldar as percepções globais e desumanizar ainda mais os palestinos.

Um anúncio particularmente controverso, conforme detalhado no relatório, ambientado em um cenário de arco-íris e unicórnios, foi baseado em uma história infantil. O Google enfatizou que o anúncio foi devidamente rotulado para garantir que não aparecesse ao lado de conteúdo direcionado a crianças.

O texto do anúncio dizia: “Sabemos que seu filho não pode ler isso. Temos uma mensagem importante para vocês, como pais. Quarenta bebês foram assassinados em Israel por terroristas do Hamas (ISIS). Assim como você faria tudo pelo seu filho, faremos tudo para proteger os nossos. Agora abrace seu bebê e fique ao nosso lado.” A frase—“Fique ao nosso lado”—pedia explicitamente apoio à ação militar israelense, mas o Google não classificou o anúncio como incitação à violência ou violação dos direitos humanos.

Influenciadores e plataformas de mídia social

Ao mesmo tempo, influenciadores em plataformas de mídia social foram contatados por e-mail e convidados a espalhar propaganda israelense em troca de compensação financeira. Um influenciador do TikTok compartilhou um e-mail oferecendo a ele US$ 5.000 para postar conteúdo pró-Israel, além de “sessões de lavagem cerebral” para entender melhor a situação. Embora o número exato de influenciadores contatados ou que aceitaram a oferta permaneça desconhecido, é razoável supor que muitos o fizeram.

Paralelamente, Israel e grupos pró-Israel pressionaram plataformas de mídia social para remover conteúdo pró-palestino, silenciando jornalistas, ativistas e influenciadores por meio de ameaças ou minando suas carreiras.

O Meta, por exemplo, tomou várias medidas para censurar conteúdo pró-palestino, além de suas práticas existentes que já visavam desproporcionalmente as vozes palestinas. Uma dessas medidas envolveu a redução do limite de confiança para conteúdo palestino de 80% para 25%, o que significa que o conteúdo agora tinha maior probabilidade de ser removido se fosse considerado potencialmente violador dos padrões da comunidade. Essa mudança resultou em um aumento significativo na remoção de conteúdo, de acordo com outro relatório produzido pela 7amleh.

Por outro lado, muitos grupos pró-Israel ameaçaram ativamente ativistas e jornalistas pró-palestinos, tentando prejudicar suas carreiras, manchar suas reputações e desacreditar seu trabalho para obscurecer o que está acontecendo no terreno. Um exemplo notável é o HonestReporting, que enviou mais de 50.000 cartas a veículos de mídia no Canadá desde outubro de 2023, visando jornalistas.

“Animais Humanos”

A disseminação de desinformação sobre a guerra genocida israelense envolveu várias formas comuns de desinformação: fotos e vídeos manipulados, alegações falsas, notícias falsas, reutilização de conteúdo antigo, conteúdo fabricado, narrativas emocionalmente carregadas, contas falsas e bots, conteúdo alterado, conteúdo fora de contexto e engajamento de influenciadores e celebridades.

Israel empregou táticas notórias, incluindo enquadrar o ataque de 7 de outubro a Israel de uma forma que o descontextualizava historicamente, apresentando-o como um evento isolado, em vez de uma consequência de décadas de colonização e repressão.

Israel tentou promover a narrativa de que os palestinos atacaram Israel sem motivo, retratando-os como “animais humanos” destinados à violência. Essa narrativa, propagada por políticos, entidades e afiliados israelenses, alegava falsamente que os palestinos agiram por desejo de eliminar os judeus, em vez de como uma reação a injustiças históricas e ao cerco de muitos anos.

Ao mesmo tempo, enquanto Israel trabalhava diligentemente para amplificar o impacto do ataque, mostrando a destruição e as vítimas, precisava de justificativas mais fortes para fabricar um consenso global para suas ações na Faixa de Gaza.

Para isso, Israel fabricou alegações exageradas sobre a escala da violência contra israelenses durante o ataque de 7 de outubro, incluindo relatos falsos de “40 bebês decapitados”, “bebês em fornos” e “estupros sistemáticos” de mulheres israelenses. Essas alegações foram amplamente divulgadas sem verificação e adotadas por grandes veículos de mídia em todo o mundo, antes que muitos deles as retratassem. Isso incluiu o presidente dos EUA, Joe Biden, que inicialmente endossou a alegação antes de reverter sua posição.

Outras falsidades foram fabricadas e espalhadas durante as operações israelenses para justificar e legitimar ataques a civis e instalações de saúde. Uma dessas alegações foi que um centro de operações do Hamas estava localizado sob o Hospital Al-Shifa, ou que o Hamas havia assumido o controle do hospital. Essas alegações visavam fornecer um pretexto para os extensos ataques de Israel a instalações de saúde na Faixa de Gaza.

Enquanto essas alegações falsas eram projetadas para preparar o público e a opinião global para aceitar a limpeza étnica e a destruição de comunidades inteiras, outra camada dessa campanha de desinformação funcionava em paralelo, tentando branquear as ações de Israel ao alegar que os palestinos estavam fingindo suas mortes e desacreditando as vítimas.

Campanha “Pallywood”

A campanha “Pallywood” é um exemplo proeminente de conteúdo retirado de cenas de atuação em diferentes contextos ou períodos, alegando falsamente que cenas de morte foram encenadas.

Essa campanha não se limitou a usuários comuns; um exemplo notável envolveu o porta-voz em árabe do escritório do primeiro-ministro israelense, que compartilhou uma cena do Líbano, alegando falsamente que era de Gaza. Outro vídeo sugeria que os palestinos estavam fingindo suas feridas em Gaza, embora as imagens fossem na verdade de uma reportagem de 2017 sobre um maquiador trabalhando em filmes palestinos e com instituições de caridade. Numerosos outros exemplos foram circulados por usuários israelenses ou pró-Israel para diminuir a empatia global pelos palestinos.

A campanha de desinformação israelense está profundamente entrelaçada com o genocídio no terreno. Sem uma operação de influência tão vasta, Israel não teria tido a liberdade para realizar a destruição de Gaza e suas comunidades.

O governo israelense e seus afiliados elaboraram uma estratégia de múltiplas camadas para desumanizar os palestinos, deslegitimar seus direitos e reivindicações, desacreditá-los, minar a solidariedade, semear confusão entre ativistas e a mídia e, finalmente, legitimar sua violência horrível.

* Escritor e defensor dos direitos digitais da Palestina. Ele atua como gerente de documentação no 7amleh – The Arab Center for the Advancement of Social Media. Seu trabalho se concentra em censura digital, danos online e responsabilização de plataforma. Artigo publicado em 07/03/2025 pelo The Palestine Chronicle.

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