Pacientes renais em Gaza lutam contra a escassez de água em meio a bloqueio “israelense”

Pacientes renais em Gaza enfrentam uma grave escassez de água limpa, medicamentos e diálise, lutando pela sobrevivência em meio à guerra e à devastação em curso.

08/03/2025

Kidney patients in Gaza face a dire shortage of clean water, medicine, and dialysis. (Photo: Shaimaa Eid, The Palestine Chronicle)

Por Shaimaa Eid*

Nos corredores do Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, no centro de Gaza, Mohammed Saleh está sentado, exausto, esperando sua vez de passar por uma sessão de diálise. Sinais de fadiga são evidentes em seu rosto—não apenas por causa de sua doença, mas também devido à exaustiva busca por água potável, que terminou em vão.

Com um tom cansado, ele diz: “Todos os dias, travamos uma batalha difícil para encontrar água limpa e sustentar nossos corpos frágeis.” Ele enfatiza que o acesso a água engarrafada para pacientes renais em Gaza não é mais um luxo, mas sim “uma questão de vida ou morte.”

O fardo da doença e do deslocamento

Mohammed, que foi deslocado do campo de refugiados de Jabaliya, no norte de Gaza, sofre de doença renal há quatro anos.

Antes do início da guerra genocida de Israel contra Gaza, em 7 de outubro, ele fazia diálise três vezes por semana, com cada sessão durando quatro horas. No entanto, à medida que a crise se aprofundou, os suprimentos médicos diminuíram e o número de pacientes deslocados aumentou, o hospital foi forçado a reduzir as sessões de diálise para apenas duas vezes por semana, cada uma com duração de duas horas.

Olhando sombriamente para a máquina de diálise, Mohammed lamenta: “Essa redução está impactando gravemente nossa saúde, especialmente com a falta de água limpa e nutrição adequada, que são cruciais para nossa sobrevivência.”

Seu sofrimento vai além das sessões reduzidas de diálise. Ele também desenvolveu uma infecção estomacal por ser forçado a beber água contaminada nos abrigos de deslocamento, onde não há água adequada para sua condição. Pacientes renais precisam de grandes quantidades de água limpa, mas a água engarrafada em Gaza se tornou proibitivamente cara—quando está disponível.

“Eu não tenho uma renda estável,” diz ele com tristeza. “Mesmo que a água engarrafada estivesse disponível, eu não poderia comprá-la. Os preços estão fora do meu alcance.”

Água: um luxo em tempos de guerra

Desde o início do ataque, a infraestrutura hídrica de Gaza foi severamente danificada, transformando o acesso à água potável em um “luxo,” como muitos residentes descrevem. A escassez e os preços exorbitantes tornaram quase impossível para a maioria das pessoas obtê-la.

Fontes locais de água, como poços e usinas de dessalinização, foram paralisadas por cortes de energia e grave falta de combustível, forçando os residentes a buscar alternativas a custos exorbitantes.

“O nível de salinidade na água é extremamente alto, representando um sério risco para nossa saúde,” explica Mohammed com uma voz fraca. “Nossos corpos perdem minerais essenciais durante a diálise, então precisamos desesperadamente de água engarrafada segura. Mas consegui-la se tornou um fardo esmagador.”

Escassez grave de medicamentos

A crise vai além da água. Uma grave escassez de medicamentos essenciais para pacientes renais tem agravado seu sofrimento. Os hospitais estão lutando com suprimentos médicos cada vez menores, e os poucos remédios disponíveis em farmácias particulares são vendidos a preços muito além das possibilidades dos pacientes—a maioria dos quais perdeu seus meios de subsistência devido à guerra.

“Tive que vender parte do ouro da minha esposa para comprar medicamentos e água engarrafada,” revela Mohammed com desespero. “Até os custos de transporte para o hospital para as sessões de diálise se tornaram um fardo. Sinto que estou sacrificando tudo apenas para permanecer vivo.”

Alertas sobre uma catástrofe de saúde

Saeed Khattab, o enfermeiro-chefe do Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, alerta que os pacientes com insuficiência renal estão entre os mais vulneráveis, pois seus sistemas imunológicos debilitados os tornam altamente suscetíveis a infecções e vírus.

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Ele acrescenta: “A ocupação israelense destruiu a maioria das usinas de dessalinização de Gaza. Algumas foram completamente desativadas, enquanto outras operam com capacidade mínima. Como resultado, a maior parte da água disponível hoje não é adequada para consumo—especialmente para pacientes renais, que precisam de água limpa para evitar complicações graves.”

Khattab alerta que a água contaminada pode causar infecções intestinais graves, vômitos persistentes e desidratação, o que pode levar a uma rápida deterioração da saúde dos pacientes, potencialmente resultando em morte.

Apelos urgentes para salvar os pacientes

Diante dessa situação catastrófica, o Dr. Khattab está pedindo à Organização Mundial da Saúde (OMS) e às instituições internacionais que intervenham imediatamente para salvar os pacientes renais de Gaza. Ele pede que forneçam água potável, medicamentos essenciais e nutrição adequada para apoiar sua saúde frágil em meio ao colapso severo do sistema de saúde.

Apesar de tudo, Mohammed e milhares de outros pacientes continuam lutando pela sobrevivência, agarrando-se à vida em condições insuportáveis—na esperança de que, de alguma forma, possam recuperar o acesso ao que perderam: um gole de água limpa ou uma dose de medicamento que salva vidas.

* Escritora baseada em Gaza. Artigo publicado em 07/03/2025 no The Palestine Chronicle.

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