Presidente da FEPAL é homenageado na Assembleia Legislativa de São Paulo

08/11/2022

Evento “Homenagem às Personalidades das Comunidades” foi promovido pelo Conscre – Conselho Estadual de Comunidades, Raízes e Culturas Estrangeiras da Alesp (Foto: Fredy Uehara)

O presidente da FEPAL, Ualid Rabah, foi o representante da comunidade palestina homenageado ontem (7) em evento promovido pelo CONSCRE – Conselho Estadual de Comunidades, Raízes e Culturas, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).

Intitulada “Homenagem às Personalidades das Comunidades”, a sessão solene reconheceu o papel de 18 lideranças – representantes de diferentes comunidades de descendentes de imigrantes – na preservação da memória e da identidade cultural de seus povos e países originários, bem como suas contribuições para a construção socioeconômica de São Paulo e do Brasil.

Em seu discurso, o presidente da FEPAL lembrou da história da imigração palestina no Brasil, cujo início data do final do século XIX, e do processo de integração social, política e econômica desses imigrantes à sociedade brasileira. “Este reconhecimento é para todos os mais de 100 mil brasileiro-palestinos que trabalham de sol a sol para ver o Brasil, a pátria que os acolheu, ser o mais importante país do mundo”, afirmou.

Rabah também estendeu os agradecimentos a todo o povo de origem árabe que vive no país – em especial aos “irmãos levantinos libaneses e sírios” – e a todos aqueles que são solidários com a luta nacional palestina. Ele também referenciou seus pares e antecessores, que ajudaram a consolidar entidades representativas como a própria FEPAL.

“Saibamos defender os fracos, especialmente quando fortes, porque a história nos ensinou que a empunhadura da injustiça troca facilmente de mãos. Tenhamos consciência para não aceitar o papel de algozes tendo sido nós, antes, suas vítimas”, aconselhou.

Para o presidente do CONSCRE, Gabriel Sayegh, este evento em homenagem às comunidades de imigrantes, ao partir do maior órgão legislativo estadual do país, serve para estimular a harmonia entre a população brasileira, valorizando sua diversidade e riqueza cultural.

“No CONSCRE não existem inimigos sociais, políticos ou religiosos, somos todos irmãos, em harmonia e convivência pacífica, aqui cultivamos a paz”, disse.

O CONSCRE é um Conselho de Comunidades, de natureza permanente e deliberativa, criado em 2001 com o intuito de fomentar uma maior integração entre as comunidades descendentes de estrangeiros que residem no Estado de São Paulo.

 

Confira íntegra do discurso de Ualid Rabah na cerimônia: 

Estou muito feliz por estar aqui, por viver este momento, esta homenagem. E não por mim, visto que somos parte de uma coletividade, de um corpo maior, que é uma comunidade, a brasileiro-palestina, a grande homenageada nesta noite.

Este reconhecimento é de todos os palestinos que vieram ao Brasil desde a última década dos 1800, portanto, há pelo menos 130 anos. Estes pioneiros fugiam das perseguições otomanas e se fixaram em maior número no Recife, onde está a maior comunidade brasileiro-palestina numa só cidade. É de todos que vieram após a primeira guerra mundial, vítimas da mesma perseguição e também daquela que se inaugurada após este conflito bélico, a do império inglês, que ocupa a Palestina. E é também da maior parte da diáspora brasileiro-palestina que para cá veio viver a dor do exílio após 1948, quando da nossa NAKBA, a nossa catástrofe. É de cada palestino e palestina, do Chuí a Natal, de Uruguaiana a Manaus, passando por São Paulo e centenas de cidades em todos os estados brasileiros.

Este reconhecimento é de todos os que ajudaram, como palestinos, a construir um Brasil melhor, primeiro como mascates, os bandeirantes desarmados, levando mercadorias para os rincões aos quais poucos queriam atender. Mais tarde como comerciantes nas pequenas localidades do interior, onde também poucos queriam desbravar e fixar comércio. Mais tarde como comerciantes e industriais nos grandes centros, como nesta metrópole da arabidade, o estado e a cidade de São Paulo, sua capital.

Este reconhecimento é para todos os que aqui lutaram para manter nas gerações vindouras viva a chama da luta nacional, a cultura, as tradições, a culinárias, a espiritualidade. Para todos os que organizaram as primeiras instituições palestino-brasileiras, dentre elas a Sociedade Beneficente Muçulmana Palestina, que depois se tornou apenas Sociedade Beneficente Muçulmana, porque vieram a ela outros imigrantes árabes muçulmanos não palestinos. Esta iniciativa pioneira de palestinos é a hoje Mesquita Brasil (em São Paulo), orgulho da islamidade neste país, a primeira mesquita do Brasil e do continente.

Este reconhecimento é para aqueles que arriscaram suas vidas, suas liberdades, seus negócios e as integridades de suas famílias para que pudéssemos nos organizar enquanto diáspora, veicular nossas demandas, do que resultou o reconhecimento, pelo Brasil, da Organização para a Libertação da Palestina, a instalação desta no país em 1975, ainda no seio da Liga dos Estados Árabes, depois com um escritório de representação, em 1979, em Brasília, relação que daqueles tempos até hoje só evoluiu e melhorou, em diversos governos, sob diversos humores geopolíticos e ideológicos.

Para todos os que lideram suas comunidades, que presidem suas sociedades e demais organizações e instituições, uma luta diária para poucos, tamanhos os desafios.

É para todos os mais de 100 mil brasileiro-palestinos que trabalham de sol a sol para ver o Brasil, a pátria que os acolheu, ser o mais importante país do mundo.

Este reconhecimento é também para todos os que nos foram e são solidários. Para as autoridades e povo brasileiros, aos quais nos curvamos humildemente em reconhecimento e gratidão.

É também a esta Assembleia Legislativa, que soube dignificar os imigrantes, os distinguindo com um conselho e com uma solenidade desta magnitude.

É também àqueles e aquelas que incluíram a comunidade palestina, graças a o que pôde tomar parte do conselho, desta solenidade e de tudo o mais que virá.

Não posso, portanto, deixar de agradecer e estender esta homenagem ao presidente do Conselho, o muito generoso e amável Gabiel Saiegh, em nome de quem cumprimento toda a diretoria, bem como à minha patrícia Rita de Cássia, que nos representa, com Mohamad Salem, junto deste colegiado e que muito fez para este sucesso.

Não posso esquecer, ainda, de todos os que nos deixaram, verdadeiros mártires da nossa causa no exílio. Louvados sejam e que da morada dos justos em que em paz descansam saibam que jamais deixaremos de trilhar seu justo caminho e seguir seus nobres ensinamentos.

Essa homenagem alcança o povo palestino que vive sua ancestralidade dez vezes milenar na Palestina, de Gaza à santa Jerusalém, a metrópole do monoteísmo, do deus desracializado, que aboliu entre nós os supremacismos, os racismos, as discriminações, o ódio e a intolerância, de Belém do nascimento de Cristo à cidade de sua família, Nazareth. E também aos que vivem o exílio nos campos de refugiados, seja na própria Palestina, seja nos países vizinhos, especialmente no Líbano, na Síria e na Jordânia.

E é também, por que não, aos nossos irmãos árabes, todos eles, mas com muito carinhos os nossos irmãos levantinos libaneses e sírios, que compõem conosco a arabidade neste imenso e generoso Brasil.

Estendo esta homenagem, por derradeiro, a todos aqueles e aquelas que lutam por justiça para todos os povos, para todos os seres humanos, desde ontem, hoje e sempre. Saibamos defender os fracos, especialmente quando fortes, porque a história nos ensinou que a empunhadura da injustiça troca facilmente de mãos. Tenhamos consciência para não aceitar o papel de algozes tendo sido nós, antes, suas vítimas.

Por fim, muito obrigado aos que propuseram esta homenagem, aos que a organizaram tão brilhantemente, a todas as pessoas aqui presentes, muito carinhosamente a cada integrante da comunidade palestina e demais convidados por nós para que aqui estivessem, pessoas às quais louvamos porque conosco sempre ombrearam, especialmente nos momentos mais difíceis da nossa história.

Muito obrigado e que o mundo passe a espelhar este conselho, para ser mais justo, com paz, liberdade, soberania, democracia, desenvolvimento social e econômico e segurança para todos.

Palestina livre a partir São Paulo/SP, 7 de novembro de 2022, 75º ano da Nakba.

 

Notícias em destaque

07/12/2024

Por que o genocídio sionista nunca mais será normalizado

Por Ramzy Baroud* A guerra e o genocídio em andamento em Gaza não têm [...]

LER MATÉRIA
06/12/2024

Na Palestina, resistência é “terrorismo”; na Síria, invasores são “rebeldes”

Por Eduardo Vasco* Uma nova onda de “terrorismo” tem se abatido sobre o [...]

LER MATÉRIA
05/12/2024

Anistia Internacional pede em relatório que países isolem “israel” por genocídio em Gaza

Em um relatório abrangente publicado pela Anistia Internacional nesta [...]

LER MATÉRIA
04/12/2024

Quem é o conselheiro libanês de Trump para assuntos árabes e do Oriente Médio?

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, escolheu o sogro de sua filha [...]

LER MATÉRIA
03/12/2024

Construtora de assentamentos judaicos ilegais já está no norte de Gaza

Por Younis Tirawi* Em 28 de novembro, o Ministro da Habitação e Construção [...]

LER MATÉRIA
02/12/2024

Fepal pede anular questão em concurso por incitar genocídio contra palestinos

Em ofício enviado à secretária de Educação do Estado do Ceará, Eliana Nunes [...]

LER MATÉRIA