Outro brasileiro-palestino desnutrido e sob maus-tratos em masmorra “israelense”
“Salah é um brasileiro e menor de idade, além de ser inocente. O governo brasileiro precisa pressionar para que ele não seja maltratado e não sofra o mesmo destino que Walid”, suplica a mãe

Salah Hamad tem 17 anos e foi preso um mês e meio depois de seu primo, morto na prisão há poucas semanas. (Foto: arquivo da família)
Por Eduardo Vasco*
Salah Al-Din Yasser Hamad, de 17 anos, é primo de Walid Ahmed, o brasileiro-palestino que morreu por maus-tratos em uma prisão israelense no mês passado. Salah chorou muito quando recebeu a notícia da morte de Walid, com quem conviveu a vida inteira e era tão próximo quanto um irmão. Salah também tem cidadania brasileira. Ele também está preso.
Quem lhe deu a notícia foi um jovem detido pelos soldados e enviado para a mesma cela de Salah, na prisão de Ofer. Este menino, que não é de Silwad, a cidade da família brasileiro-palestina, contou que, ainda quando estava em liberdade, ouviu dizer que um menor de idade de Silwad havia morrido na prisão. Salah não teve dúvida: era Walid.
A reação de Salah ao saber da morte do primo só é conhecida do público porque um colega de cela de Salah foi solto alguns dias depois e contou para Nadia Yasser Hamad, mãe de Salah e nascida no Brasil. O argumento da tristeza que se abateu sobre o garoto foi suficiente para o advogado da família conseguir autorização para Nadia visitar seu filho nesta quarta-feira (09).
Ele está preso desde o dia 18 de novembro em uma das mais crueis e horrendas prisões de “israel”. Ofer é conhecida por ser um campo de concentração militar a oeste de Ramallah, na Cisjordânia ocupada. Os presos a comparam com as famigeradas prisões de Abu Ghraib e Guantánamo. Segundo a Comissão Independente de Direitos Humanos, logo após o 7 de outubro de 2023 os detidos em Ofer já estavam sofrendo torturas, abusos, humilhações e passando fome e frio. Alguns morreram na prisão. Choques elétricos e torturas contra todos os prisioneiros, sem exceção, também foram relatadas à +972 Magazine e ao Local Call. Algemados e acorrentados 24/7, eles são classificados como “combatentes ilegais” e não recebem o devido processo legal. São acusados de apoio ao terrorismo e detidos por tempo indeterminado.
Um mês após seu sequestro pelos soldados, em 15 de dezembro, a mãe conseguiu ver Salah. “Eu o achei muito diferente. Estava com a cabeça raspada e muito mais magro”, conta Nadia, por vídeo, ao site da Fepal. Era dia do julgamento do filho, mas as autoridades adiaram a sentença. Na segunda vez, somente dois meses depois, em 24 de fevereiro, foi o pai, Yasser Salah Hamad, quem esteve presente. “Eu não o reconheci. Foi Salah quem veio ao meu encontro, porque eu não conseguia identificá-lo”, diz. “Ele nunca teve barba, pois é muito novo, mas estava com uma barba enorme e muito magro, desnutrido.” Houve um novo adiamento e a audiência foi remarcada para maio.
Assim como seu falecido primo Walid, Salah foi sequestrado sem julgamento e sob as típicas (e frágeis) acusações de resistência. São 21 acusações contra Salah, entre elas as de ter fabricado armas caseiras, coquetéis molotov, de jogar pedras em soldados e planejar ataques ao exército e aos chamados “colonos”.
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De fato, ele foi preso duas vezes. A primeira, em junho de 2024, ocorreu quando soldados quebraram a porta da casa da família a altas horas da noite. Salah estava passeando no shopping com seus amigos. Os militares disseram para Nadia ligar para o filho e ordená-lo voltar à casa imediatamente para se entregar, caso contrário levariam sua irmã de 14 anos em seu lugar. Salah se entregou. Ele tinha 16 anos.
Graças à ajuda dos diplomatas brasileiros em Ramallah, o menor foi liberado depois de quatro dias, na véspera do seu julgamento. No entanto, ele relatou que havia sido espancado no camburão do exército de “israel” antes de ser solto.
Essa experiência, sobretudo a tortura, aterrorizou Salah quando soube que seria preso pela segunda vez. Havia completado 17 anos em setembro. Estava descansando em casa em um domingo, 18 de novembro, quando seus amigos lhe avisaram que o exército havia entrado em Silwad e estava indo em direção à sua casa. Contou ao pai que não queria ser sequestrado novamente, traumatizado pelo espancamento. Propôs se entregar à delegacia no dia seguinte, para não ser transportado de camburão. Desligou o celular e saiu de casa. Quando os soldados chegaram, exigiram novamente aos pais que o trouxessem de volta. Seu pai explicou a situação, recordando que seu filho era menor de idade.
“Eu disse ao comandante que não havia razão nenhuma para o meu filho ser preso, pois não havia nenhuma perturbação por parte da população local há dois anos”, diz o pai. “Os meninos não participavam de nenhuma manifestação, não atiravam pedras em ninguém. Sabiam que a repressão havia aumentado e qualquer coisa seria usada como desculpa para prendê-los.” Segundo ele, o comandante concordou e disse que Salah seria apenas interrogado e solto em seguida. Mas está preso até hoje, aguardando julgamento.
Yasser suspeita que o motivo da prisão seja uma disputa de terras com um colono israelense, que, incentivado pela política expansionista de Tel Aviv, invadiu e ocupou um grande terreno da família Hamad na região. Salah visitava a propriedade com frequência para fazer churrasco com os amigos e colher mel das mais de 100 caixas de abelhas da família. Contudo, o colono tem registrado queixas às autoridades, reivindicando o terreno. Recentemente, ele ateou fogo nas caixas e, quando Salah e os amigos foram ao local para resgatá-las, o israelense também ateou fogo em um trator da família Hamad.
Yasser afirma que aquele indivíduo sempre ataca quem entra no terreno e os soldados que prenderam seu filho devem ter sido acionados após as queixas do colono. Alguns dos amigos de Salah foram sequestrados junto com ele pelas forças ocupantes.
Angustiados após tomarem conhecimento das condições da morte de Walid, os pais de Salah rogam ao governo brasileiro para que pressione “israel” pela libertação de seu filho. “Salah é um brasileiro e menor de idade, além de ser inocente. O governo brasileiro precisa pressionar para que ele não seja maltratado e não sofra o mesmo destino que Walid”, suplica Nadia.
“Eu admiro o povo brasileiro e seu governo, especialmente o atual, e peço que o Brasil esteja do lado da Palestina. Que o governo brasileiro não admita que a voz do advogado de defesa seja silenciada, porque é isso que se está fazendo nos julgamentos, o que é absurdo, pois todos têm direito à defesa”, diz o pai.
A mãe ainda desabafa: “a causa palestina é uma causa justa e humanitária. Eu peço que o governo e o povo brasileiros deem mais atenção a ela. Não é só meu filho, há vários outros jovens inocentes sofrendo. Temos passado por coisas que ninguém suporta. O Brasil é um país que sempre esteve do lado da justiça, sei que o presidente é justo e deveria tomar mais decisões contra a ocupação.”
* De São Paulo, especial para a Fepal. Ruayda Rabah colaborou na tradução da entrevista, da Cisjordânia.
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